28 março 2011

Comunicado de Imprensa - Censos 2011

A organização da manifestação MayDay Lisboa 2011, contra a precariedade, realizou hoje de manhã uma acção no Instituto Nacional de Estatística, relativa aos Censos 2011, coordenados por esta instituição.

Foto de Inês Milagre

Os Censos 2011 têm como objectivo principal tirar uma “fotografia” da população portuguesa: quem somos, quantos somos, como e onde vivemos, como trabalhamos.
A análise estatística do que for recolhido servirá para orientar quem governa na definição das medidas políticas mais adequadas à realidade. Este retrato deveria ser o mais fiel e rigoroso e era fundamental que esta análise reflectisse a realidade de todos e de cada um. No entanto há dois aspectos cruciais e que afectam a camada mais frágil da sociedade que nestes censos são ocultados através de perguntas e critérios dúbios – a precariedade no trabalho e a falta de habitação ou de habitação com condições condignas. A formulação dos questionários dos Censos 2011 levará à criação de uma realidade paralela, que se afasta brutalmente da realidade e que afectará negativamente o processo decisório futuro em Portugal.

De modo incompreensível os Censos 2011 desperdiçam a oportunidade de esboçar um retrato fidedigno da realidade do país, escamoteando a precariedade laboral. A acção levada a cabo no Instituto Nacional de Estatística foi um protesto pacífico e simbólico com o objectivo de chamar a atenção para a crescente precariedade no país, e para a necessidade de, entre outras perguntas, reclamar a alteração da pergunta nº 32 dos Censos.

Edição de João Camargo

Representantes da organização do MayDay Lisboa 2011 foram recebidos por assessores do INE relacionados com o Momento Censitório de 2011, a quem entregaram um documento congratulatório pelo seu apoio no combate à precariedade e à habitação condigna para todos. Este documento irónico baseou-se nas instruções para preenchimento dos formulários dos censos, em que se apela a que trabalhadores a recibos verdes mas que cumpram critérios de trabalhador por conta de outrem (local de trabalho fixo dentro de uma empresa, subordinação hierárquica e horário de trabalho definido) devam assinalar a opção “trabalhador por conta de outrem”, mascarando a sua situação de “falso” trabalhador independente, pois apesar de ter todos os deveres do trabalhador por conta de outrem, não usufrui dos direitos inerentes (primeiro dos quais ter um contrato de trabalho). A questão da habitação também preocupa bastante a organização do MayDay, tendo a mesma chamado a atenção para o registo de cidadãos actualmente “sem-abrigo” em prédios de luxo sob os quais pernoitam e para a alteração da definição do que é habitação, que passa a abranger barracas, desde que as mesmas tenham água canalizada e luz.

Após a exposição dos seus motivos, a organização pediu às assessoras para trocar recibos verdes por contratos de trabalho, mas apesar da boa vontade das mesmas, tal não foi possível. Consequentemente, e pondo um fim à mascarada, foram trazidos alguidares com roupa suja, que foram depositados na escadaria do INE, pois com a realização dos Censos 2011, esta instituição tornou-se num instrumento de branqueamento da realidade laboral e habitacional do país, uma autêntica “lavandaria da realidade”.

Foto de Inês Milagre

Foi deixada no final uma faixa próximo do INE, onde se podia ler “Censos 2011 Lava Mais Branco: Trabalho e Habitação”, acompanhada por um estendal de roupa.

O MayDay é um protesto de trabalhadores/as precários/as que se realiza no 1º de Maio (com partida do Largo Camões, onde há um encontro às 13h). É uma iniciativa que começou em Milão em 2001 e que, desde então, se espalhou por várias cidades europeias e do Mundo. O MayDay Lisboa arrancou em 2007, tendo em 2009 sido organizado pela primeira vez no Porto.

1 comentário:

Brumo Gomas disse...

força pessoal!
a razão está do vosso lado!